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Israel é menor que Sergipe?


Quando eu estava na faculdade de teologia, participava de diversos trabalhos pastorais com comunidades carentes. Gostava muito dos círculos bíblicos e das partilhas sobre a Palavra de Deus daquele dia, escolhida previamente para a noite de estudos. Certa vez, uma senhora me disse que era muito difícil imaginar a Terra Santa, era um lugar tão distante e as notícias que chegam de lá são tão desanimadoras. Ela me disse que, às vezes, pensava em Israel como uma terra cheia de camelos e dunas de areia, mas ao mesmo tempo tinha o rio Jordão, onde Jesus foi batizado, então não podia ser tão seco assim! O que me veio à cabeça na hora foi uma comparação que ouvi de um dos meus professores: “Israel é menor que o Rio de Janeiro, menor que São Paulo, menor até que o menor estado do Brasil, Sergipe”. E ela, de pronto, me perguntou desconfiada: “Israel é menor que Sergipe? Por que eu sou de Sergipe”. Depois disso tudo ficou mais fácil, pois começamos a comparar as “coisas” que tinha em Sergipe e as “coisas” que tinha em Israel.

Muita gente não sabe, mas realmente Israel é um país muito pequeno, mede apenas 20.770 km², enquanto Sergipe 21.910 km². Posso dizer que há semelhança entre os dois lugares: Sergipe é banhado pelo mar, o Oceano Atlântico, enquanto Israel tem ao longo do seu litoral o Mar Mediterrâneo; o Sergipe tem regiões de dunas de areia, como se fosse um deserto, Israel tem uma grande região desértica ao sul que é o Negev; o Sergipe tem mais de vinte rios, tendo como o mais importante e conhecido, o Rio São Francisco, que corta todo o estado e marca a divisa com Alagoas, Israel só tem um grande rio, o Rio Jordão (além de poucos pequenos afluentes) que corta do norte ao sul do país e marca a divisão com a Jordânia, país vizinho.

As comparações param por aí, pois Israel tem um monte de coisas que não existe em Sergipe (acredito que Sergipe também o tenha). Israel tem um imenso lago de águas doces, que de tão grande é chamado de Mar da Galiléia. Esse rio é formado pelo degelo de cadeias de montes ao norte do território, nas colinas de Golã, entre eles o mais importante, o monte Hermon. São na verdade quatro fontes: de Banias, ao lado sul do monte Hermon; de Dan, na base do mesmo monte; do Hashbani, que flui do monte Líbano e do Lyon, que também flui do Líbano. Essas fontes formam o rio Jordão que desce no chamado Vale do Jordão, formando um pequeno lago, o Hula. Nesta região se abriga uma reserva natural que é centro de migração de diversas aves. O rio Jordão segue seu curso até a Galiléia, formando o dito Mar da Galiléia, um lago de águas doces repletas de tilápias, peixe chamado também de “peixe de são Pedro”. O Mar da Galiléia tem uma profundidade média entre 25 e 40 metros, tem cerca de 21 km de comprimento e 13 km de largura.

O mar da Galiléia foi cenário de boa parte da vida de Jesus, que conviveu com os pescadores das aldeias ao longo do lago. Cada aldeia chamava o lago com um nome diferente: Kinéret, Lago de Tiberíades, Mar da Galiléia, lago Genesaré. Hoje o lago recebe milhares de turistas e peregrinos que querem reviver a emoção de atravessar o mar no qual Jesus ordenou o vento e o mar se acalmarem, que testemunhou o milagre do mestre de andar sobre as águas, que viu o olhar espantado dos discípulos ao puxarem as redes repletas de peixes. O lago encanta seus visitantes, que podem até desfrutar, após o passeio de barco, de um centro artístico-cultural, o Museu Ygal Alon, que tem em seu acervo um barco do século primeiro que provavelmente era igual ao que Pedro e seus companheiros utilizavam para pescar.

O rio Jordão sai do lago e segue pelo Vale do Jordão, descendo cada vez mais o nível do mar e aumentando aos poucos o nível de salinização de suas águas, que hoje são captadas para por Israel e Jordânia.

O vale corta Israel e desce abaixo do nível do mar até impressionantes 427 metros! A salinidade do solo e da água forma um lago nesta região desértica do Negev, deserto ao sul de Israel. Conhecido pelos ocidentais como “Mar Morto”, pois os israelenses preferem chamá-lo de “Mar de Sal” (Yam háMelaR), tem cerca de 50 km comprimento e 18 km de largura, e uma profundidade máxima de 200 metros. A quantidade de sal em água não permite a existência de peixes, porém suas águas são ricas de algas e nutrientes. As poucas águas que chegam a este destino final alimentam este espetacular lago de águas salgadas e densas, no qual qualquer pessoa que entre em suas águas consegue boiar. É possível até ler jornal enquanto se boia. A indústria utiliza o sal dessa região para o consumo interno e exportação, assim como se utilizam da lama e do sal para fazer produtos terapêuticos e de beleza. Infelizmente, cada vez mais a captação de água faz com que o Mar Morto diminua e isso também aumenta a erosão. Sabe-se que crateras estão se abrindo repentinamente em algumas regiões a beira do lago. O Mar Morte está secando a cada dia e pode realmente vir a morrer.

Podemos dizer que esta foi uma bela viagem pelo rio Jordão. Ele é símbolo e parte importante de Israel, nele João o Batista pregava aos judeus de seu tempo, ali Jesus foi batizado e hoje milhares de pessoas repetem o mesmo gesto em peregrinações para renovar as suas promessas batismais. Que suas águas, que alimentam com seus peixes, e matam a sede de um povo que tem pouquíssimos recursos hídricos, continuem abençoando as pessoas de todo o mundo e que seu significado de pureza e transformação de vida, possa fazer os corações mais endurecidos buscar a paz e a fraternidade.

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